A pesquisadora Alessandra Alves de Souza, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), foi uma das quatro vencedoras do Prêmio Ingenias LATAM 2025, concedido pela União Europeia a mulheres inventoras da América Latina.
A premiação reconheceu a aplicação inédita da molécula N-acetilcisteína (NAC) no tratamento sustentável de doenças bacterianas em plantas, com impacto direto na citricultura brasileira.
O prêmio é uma iniciativa do projeto AL-INVEST Verde DPI, implementado pelo Instituto de Propriedade Intelectual da União Europeia (EUIPO), e teve cerimônia realizada em 4 de setembro, no Chile.
Inovação verde: da medicina humana para a agricultura
A N-acetilcisteína é uma molécula antioxidante conhecida na medicina humana, mas nunca havia sido usada para tratar plantas.
A inovação da pesquisadora do IAC foi descobrir o seu potencial anti-biofilme bacteriano em citros, inibindo a ação de patógenos como a Xylella fastidiosa, causadora de doenças graves na produção de laranjas.
A tecnologia resultou em patente registrada em 2018 e levou à criação de uma startup licenciada, a Ciacamp, que já comercializa o produto com base na molécula NAC.
“A nossa patente nos deu segurança para transferir a tecnologia ao setor citrícola. Os produtores estão vendo os resultados e continuam usando”, afirmou Alessandra durante a cerimônia.
Benefícios da tecnologia com NAC para a citricultura
- Controle de doenças bacterianas sem impacto ambiental;
- Redução do estresse das plantas causado por seca ou metais pesados;
- Aumento da produtividade em pomares de laranja;
- Solução sustentável e não agressiva ao meio ambiente.
O uso da NAC é especialmente importante na citricultura paulista, responsável por cerca de 80% da produção nacional de laranja.
O Brasil lidera a produção global de suco de laranja, com 70% do mercado mundial.
Trajetória científica e desafios na inovação
Alessandra já havia se destacado por participar do sequenciamento da Xylella fastidiosa, e decidiu investigar aplicações práticas que fossem ambientalmente seguras para a agricultura.
Ao longo de 12 anos de pesquisa, ela desenvolveu o uso da NAC como solução para o controle de bactérias em plantas.
A pesquisadora destacou a importância do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) do IAC, que apoiou o processo de registro da patente e transferência de tecnologia. “O pesquisador é treinado para gerar resultados, mas o apoio institucional é essencial para transformar ciência em solução aplicada”, explica.
Reconhecimento internacional
Além de Alessandra, outras três mulheres também receberam condecorações:
- Silvana Herrera Leiva (Chile) – Inventora de faixa sensorial para pessoas com deficiência visual;
- Gladys Rojas de Arias (Paraguai) – Desenvolvedora de compostos para tratar Chagas e leishmaniose;
- María Inés Costa Saravia (Uruguai) – Criadora de ferramenta de crochê com tensão automática.
O júri internacional do prêmio avaliou critérios como vigência da patente, impacto social, inovação e sustentabilidade.
“A agricultura ainda é um ambiente muito masculino, e atuar com ciência básica e biotecnologia aumenta o desafio. É gratificante ver esse reconhecimento internacional”, disse Alessandra.