
Um novo estudo, elaborado pela Embrapa Meio Ambiente, em parceria com a Unicamp, mostra que é possível reduzir a zero as emissões de carbono na produção de etanol de cana-de-açúcar, através de tecnologias de captura de carbono.
Segundo a pesquisa, a integração entre BECCS (bioenergia com captura e armazenamento de carbono) e o uso de biochar, em áreas agrícolas amplia em larga escala os ganhos ambientais do RenovaBio, a principal política nacional voltada à descarbonização dos combustíveis e de incentivo a produção de biocombustíveis.
O BECCS captura o CO₂ biogênico liberado na fermentação e na queima de bagaço e palha nas usinas. Esse carbono é então injetado em formações geológicas profundas, onde permanece armazenado com segurança.
Já o biochar é um carvão vegetal obtido por pirólise do bagaço ou da palha da cana. Quando aplicado ao solo, melhora a fertilidade, aumenta a retenção de água e sequestra carbono por décadas, contribuindo para a agricultura sustentável.
Os resultados mostram que:
- A intensidade de carbono do etanol hidratado é hoje de 32,8 gCO₂e/MJ.
- Com BECCS na fermentação, pode cair para 10,4 gCO₂e/MJ.
- Com o uso de 1 t/ha de biochar, ficaria em 15,9 gCO₂e/MJ.
- Em cenários mais completos, combinando captura na combustão, os valores chegam a –81,3 gCO₂e/MJ.
Apesar do grande potencial de transformar a indústria do etanol de cana-de-açúcar, nenhuma usina certificada no RenovaBio adota BECCS ou biochar em escala comercial. O principal desafio é econômico:
- BECCS: custo entre US$ 100 e US$ 200 por tonelada de CO₂, enquanto o CBIO (Crédito de Descarbonização) vale cerca de US$ 20.
- Biochar: cerca de US$ 427 por tonelada.
Em países como os Estados Unidos, incentivos como o crédito tributário 45Q chegam a US$ 180/tCO₂, permitindo maior adesão à captura de carbono.
Impacto para o produtor
Se aplicadas em larga escala, as tecnologias poderiam gerar até 197 MtCO₂e em créditos de carbono — valor equivalente a 12% das emissões brasileiras de 2022. Apenas o uso do BECCS na fermentação já capturaria 20 MtCO₂e/ano.
Os pesquisadores afirmam que o Brasil tem condições de liderar a produção de biocombustíveis de emissão negativa, combinando experiência agrícola, indústria consolidada e políticas públicas. Isso fortaleceria a posição do etanol frente à gasolina, veículos elétricos e ao hidrogênio verde.
No entanto, será necessário aprimorar o inventário de dados agrícolas, avançar em estudos sobre uso da terra e criar mecanismos econômicos capazes de viabilizar as tecnologias em escala comercial.
O etanol brasileiro já é um combustível competitivo em emissões. Mas, com o uso de BECCS e biochar, pode se tornar uma das alternativas mais eficazes na transição energética global. O futuro, segundo os pesquisadores, dependerá da capacidade do país em transformar o carbono negativo em um ativo economicamente viável.