Premiação

Pesquisadora da Embrapa Soja conquista o “Nobel” da agricultura

Mariangela Hungria trabalha no desenvolvimento de tecnologias em microbiologia do solo, permitindo aos produtores a obtenção de altos rendimentos, com menores custos e impactos ambientais

A foto é da pesquisadora Mariangela Hungria, que trabalha no desenvolvimento de tecnologias em microbiologia do solo,.
Foto: Embrapa/Divulgação

Os mais de 40 anos de Mariangela Hungria dedicados à pesquisa agropecuária não geraram apenas ganhos aos produtores e ao meio ambiente. Na última semana, a pesquisadora da Embrapa Soja foi contemplada com a edição de 2025 do Prêmio Mundial de Alimentação – World Food Prize (WFP) –, reconhecido como o “Nobel” da agricultura.

O anúncio de sua nomeação ocorreu na sede da Fundação World Food Prize, nos Estados Unidos, criada pelo Nobel da Paz Norman Borlaug (1970), pai da revolução verde. A solenidade de entrega da homenagem será realizada em 23 de outubro, em Des Moines, no estado norte-americano de Iowa.

O prêmio reconhece anualmente as personalidades que contribuem para o aprimoramento da qualidade e da disponibilidade de alimentos no mundo. O reconhecimento como “Nobel” da agricultura e alimentação se dá pelo fato dessa categoria não ser contemplada nas oficiais do Nobel.

“Ainda não consigo acreditar, é uma grande honra, um reconhecimento mundial. Acredito que minha principal contribuição para mitigar a fome no mundo tenha sido minha persistência de que a produção de alimentos é essencial, mas deve ser feita com sustentabilidade”, celebra Mariangela.

“Foi uma vida dedicada à busca por altos rendimentos, mas via uso de biológicos, substituindo parcial ou totalmente os fertilizantes químicos. Com essa premiação, existe também o reconhecimento do empenho da pesquisa brasileira rumo a uma agricultura cada vez mais sustentável, favorecendo nossa imagem no exterior”, completa.

Mariangela possui graduação em Engenharia Agronômica (Esalq/USP), mestrado em Solos e Nutrição de Plantas (Esalq/USP), doutorado em Ciência do Solo (UFRRJ) e pós-doutorado em três universidades: Cornell University, University of California-Davis e Universidade de Sevilla. É pesquisadora da Embrapa desde 1982, inicialmente na Embrapa Agrobiologia (Seropédica, RJ) e, desde 1991, na Embrapa Soja (Londrina, PR).

Reconhecimento no Brasil e no mundo

A governadora do estado de Iowa, Kim Reynolds, celebrou a homenagem, destacando o papel de Mariangela também como um exemplo inspirador de mães pesquisadoras que buscam encarnar ambos os papéis.

“As suas descobertas e desenvolvimentos contribuíram para levar o Brasil a tornar-se um celeiro mundial. O Prêmio reconhece aqueles cuja coragem e inovação transformam o nosso mundo”, comentou Reynolds.

Presidente do Comitê de Seleção dos indicados ao Prêmio, Dr. Gebisa Ejeta ressaltou que a escolha de Mariangela se deu pelas suas extraordinárias realizações científicas na fixação biológica, que transformaram a sustentabilidade da agricultura na América do Sul.

“O seu brilhante trabalho científico e a sua visão empenhada no avanço da produção agrícola sustentável para alimentar a humanidade com o uso criterioso de fertilizantes químicos e insumos biológicos deram-lhe reconhecimento global”, afirmou Ejeta.

A presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, e o chefe-geral da Embrapa Soja, Alexandre Nepomuceno, também celebraram a conquista.

Uma vida dedicada à microbiologia

Mariangela está sendo reconhecida por sua trajetória de mais de 40 anos dedicados ao desenvolvimento de tecnologias em microbiologia do solo, o que vem permitindo aos produtores rurais a obtenção de altos rendimentos, com menores custos e mitigação de impactos ambientais.

Ao longo desse tempo, a ênfase das suas pesquisas tem sido no aumento da produção e na qualidade de alimentos por meio da substituição total ou parcial de fertilizantes químicos por microrganismos portadores de propriedades como fixação biológica de nitrogênio (FBN), síntese de fitormônios e solubilização de fosfatos e rochas potássicas.

O uso da inoculação na soja com bactérias fixadoras de nitrogênio (Bradyrhizobium), que pode ser ainda mais benéfico se associado à coinoculação da soja com a bactéria Azospirilum brasiliense. Somente em 2024, por exemplo, esta tecnologia propiciou uma economia estimada de US$ 25 bilhões, ao dispensar o uso de adubos nitrogenados. A pesquisadora estima esse valor considerando a área de soja, a produção de soja, o valor do fertilizante (ureia) que seria necessário para essa produção, e a eficiência de uso do fertilizante nitrogenado.

Além deste benefício, Mariangela explica que essa tecnologia evitou, em 2024, a emissão de mais de 230 milhões de toneladas de CO₂ equivalentes por ano para a atmosfera. Hoje, a inoculação da soja é adotada anualmente em aproximadamente 85% da área total cultivada de soja, hoje cerca de 40 milhões de hectares — representando a maior taxa de adoção de inoculação do mundo.