Cultivo consorciado

Roça Sustentável: o sistema que transforma a produção de alimentos no Maranhão

Tecnologia da Embrapa combina consórcio de culturas, rotação e uso eficiente do solo para aumentar a produtividade e reduzir o desmatamento

A imagem representa como as boas condições climáticas nas regiões produtoras da segunda safra de milho reforçam as expectativas de elevada produtividade
Foto: Alejandro Barrón/Pexels

A junção de tecnologias agrícolas sustentáveis tem transformado a produção de alimentos em propriedades familiares do Maranhão. Batizado de Roça Sustentável, o sistema reúne técnicas de baixo custo, adaptadas à realidade local, e já apresenta resultados expressivos em lavouras de mandioca, arroz, milho e feijão.

A solução, desenvolvida com base no Sistema Bragantino da Embrapa Amazônia Oriental e adaptada pela Embrapa Maranhão, foi criada nas próprias comunidades, a partir de demandas dos agricultores familiares.

A proposta combina práticas como o cultivo consorciado e a rotação de culturas, o uso racional de defensivos agrícolas, a adubação equilibrada e a ocupação eficiente da área produtiva, sem a necessidade de derrubada de florestas nativas e queima. O objetivo é substituir gradualmente sistemas tradicionais, como a chamada “roça no toco”, por alternativas que preservam o solo, aumentam a produtividade e reduzem o esforço físico dos produtores.

“Trata-se de um policultivo das culturas mais produzidas pelos agricultores familiares, seja para consumo familiar ou comercialização. A ênfase é nas variedades em uso na região e preferidas pelos agricultores. A iniciativa aumentou o leque de produtos do agricultor familiar com excelentes resultados de produtividade e qualidade dos produtos”, afirma o analista da Embrapa, Carlos Santiago.

Ele afirma que, em propriedades onde antes a colheita de mandioca levava 18 meses para render cerca de 8 toneladas por hectare, hoje a produção chega a 30 toneladas em apenas 11 meses. No caso do arroz e do milho, o aumento de produtividade gira em torno de 50%.

Na prática, o sistema organiza os cultivos para evitar competição entre plantas por água, luz e nutrientes. Cada cultura tem um papel na área consorciada, aproveitando melhor os recursos disponíveis. A adubação também é pensada em cadeia: culturas como o arroz, por exemplo, deixam potássio disponível no solo para a mandioca que vem na sequência. O uso de herbicidas e inseticidas é permitido, mas controladamente, na dose e no momento certos, reduzindo o impacto ambiental e maximizando a eficiência.

A Roça Sustentável também aposta na capacitação técnica dos agricultores. A implantação é feita por meio de Unidades de Referência Tecnológica (URTs) em diferentes regiões do estado, como Itapecuru-Mirim, São Raimundo das Mangabeiras, Balsas e São Luís. Nessas áreas, técnicos e produtores testam, aprendem e multiplicam o conhecimento em manejo do solo, controle de pragas, arranjos produtivos e uso eficiente da terra. O modelo valoriza variedades locais, respeita a biodiversidade e contribui para a segurança alimentar, geração de renda e permanência das famílias no campo.

Com a diversificação das lavouras, o uso consciente de insumos e a intensificação do aproveitamento da terra, a Roça Sustentável se mostra como uma alternativa viável para modernizar sistemas tradicionais, sem perder os conhecimentos locais. A proposta também contribui para o combate à fome, à pobreza rural e à degradação ambiental, e tem como eixo central o fortalecimento da agricultura familiar no Maranhão.