Extrativismo sustentável

Cooperativa no Acre transforma murumuru em renda e preservação da floresta

Atuando em cinco municípios, Coopercintra produz 20 toneladas anuais de manteiga de murumuru para grandes marcas e fortalece comunidades locais

Foto: Pedro Devani/Secretaria de Comunicação do Acre
Foto: Pedro Devani/Secretaria de Comunicação do Acre

No município acreano de Rodrigues Alves, a Cooperativa dos Produtores de Agricultura Familiar e Economia Solidária de Nova Cintra (Coopercintra) é exemplo de como unir produção, renda e preservação. Especializada na extração de manteiga e óleo de murumuru — insumo valorizado pela indústria de cosméticos — a cooperativa abastece marcas como a Natura e mantém viva a bioeconomia na região.

Atualmente, a Coopercintra atua em 53 comunidades rurais, distribuídas entre cinco municípios do Acre e do Amazonas, produzindo 20 toneladas por ano. O trabalho envolve capacitação técnica, manejo sustentável e valorização do extrativista. Hoje, 30% da diretoria é formada por mulheres, reforçando o papel feminino na gestão e no campo.

O murumuru, palmeira nativa da Amazônia, fornece amêndoas ricas em ácidos graxos, muito procuradas por suas propriedades hidratantes. A colheita segue o ciclo natural da planta: os frutos caem no chão, são descascados manualmente e prensados a frio, garantindo a preservação das características do produto. Nada se perde — cascas viram combustível para olarias e o resíduo sólido é aproveitado como ração.

Além da produção, a cooperativa investe em reflorestamento e enriquecimento de áreas, com apoio de entidades como SOS Amazônia, visando aproximar os pés de murumuru das comunidades e ampliar o cultivo de espécies como açaí, cacau e graviola.

O projeto conta com infraestrutura cedida pelo governo do Acre, por meio da Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (Funtac), e com investimentos privados para modernização e qualificação.

“O murumuru hoje é renda para famílias que antes viam a palmeira apenas como um espinheiro inútil. Hoje, é um símbolo de preservação e sustento”, afirma Queline Souza, diretora-executiva da Coopercintra.

Recentemente, o governo estadual deu mais um passo para fortalecer o extrativismo, realizando pela primeira vez o pagamento da subvenção da borracha e do murumuru diretamente na conta dos produtores. A medida, prevista em lei, beneficia extrativistas com mais agilidade e segurança no repasse dos recursos.

A experiência da Coopercintra mostra que, quando produção e preservação caminham juntas, é possível gerar renda, manter a floresta em pé e abrir espaço para o reconhecimento internacional da bioeconomia amazônica.