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Pecuária sustentável: o caminho para gerar renda com créditos de carbono

Recuperação de pastos, ILPF e manejo racional do rebanho são algumas práticas que abrem portas para novos ganhos na pecuária

A imagem representa como a pecuária sustentável pode se beneficiar com o uso de bioinsumos
Foto: Stephan Müller/Pexels

A pecuária está no centro de um dos maiores debates sobre sustentabilidade no agronegócio. Tradicionalmente associada às emissões de gases de efeito estufa (GEE), ela também desponta como uma das atividades com maior potencial de contribuir para a mitigação das mudanças climáticas. Por meio da adoção de boas práticas e da inserção em mercados de créditos de carbono, produtores rurais podem transformar responsabilidade ambiental em fonte de receita.

Neste artigo, você vai entender como esse processo funciona, quais são as práticas mais eficazes e como acessar esse novo mercado.

O que são créditos de carbono e como funcionam no setor agropecuário

Os créditos de carbono representam a redução ou remoção de uma tonelada de dióxido de carbono equivalente (CO2e) da atmosfera. Cada crédito equivale a uma tonelada de CO2e que deixou de ser emitida ou foi removida por meio de atividades sustentáveis.

No setor agropecuário, isso significa capturar carbono no solo, reduzir emissões entéricas do rebanho ou adotar sistemas de produção que sequestram carbono, como o plantio direto ou integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).

Uma vez quantificado e verificado por auditorias independentes, esse impacto ambiental positivo pode ser transformado em créditos de carbono, negociados no mercado voluntário ou regulado.

Por que a pecuária tem potencial para gerar créditos de carbono

A pecuária é uma das atividades mais intensivas em uso de solo e recursos naturais. Isso significa que, quando manejada de forma adequada, também é capaz de gerar impactos ambientais positivos significativos.

De acordo com o MapBiomas, as pastagens ocupam cerca de 160 milhões de hectares no Brasil, sendo que grande parte desta extensão apresenta algum grau de degradação. A recuperação dessas áreas com técnicas sustentáveis, como adubação correta, manejo rotacionado e introdução de leguminosas, pode aumentar o sequestro de carbono no solo e reduzir as emissões por unidade de carne produzida.

Além disso, o uso de tecnologias como suplementação alimentar, melhoramento genético e manejo sanitário contribui para uma maior eficiência produtiva, reduzindo o ciclo de engorda e, consequentemente, as emissões entéricas por animal.

Práticas sustentáveis que permitem gerar créditos no campo

Para gerar créditos de carbono de forma reconhecida e validada, o produtor rural precisa implementar práticas que reduzam emissões ou aumentem a captura de carbono no solo ou na vegetação. Algumas das mais eficazes incluem:

  • Recuperação de pastagens degradadas: melhora a produtividade e aumenta o sequestro de carbono no solo.
  • Integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF): promove maior fixação de carbono, melhora o bem-estar animal e diversifica a renda.
  • Plantio direto: reduz a emissão de CO₂ pela diminuição do revolvimento do solo.
  • Manejo racional do rebanho: inclui melhoramento genético, controle da dieta e suplementação, o que reduz a emissão de metano entérico.
  • Uso de bioinsumos e compostagem: melhora a saúde do solo e o aproveitamento de resíduos.
  • Florestas comerciais ou de regeneração natural: capturam carbono e ainda podem gerar receita adicional com madeira legalizada.

Cada prática deve ser registrada, monitorada e auditada para que os créditos de carbono possam ser validados e certificados segundo metodologias reconhecidas internacionalmente, como as do Verra (VCS) ou Gold Standard.

Quanto um produtor pode ganhar com créditos de carbono

O valor obtido com a venda de créditos de carbono depende de vários fatores, como o tipo de projeto, a escala da propriedade, o método de certificação utilizado e o preço de mercado, que pode variar conforme a demanda e a qualidade dos créditos gerados.

Atualmente, no mercado voluntário, o preço por tonelada de CO2 gira entre US$ 5 e US$ 20, mas projetos com cobenefícios (como proteção da biodiversidade e inclusão social) podem alcançar preços mais altos, entre US$ 30 e US$ 50.

Estudos indicam que, em propriedades bem manejadas e com escala adequada, a geração de créditos pode representar uma renda extra de R$ 400 a R$ 2.000 por hectare ao ano, dependendo da atividade. Em sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), por exemplo, a rentabilidade é ainda maior, considerando os ganhos conjuntos com a produção agropecuária e a venda de créditos.

É importante lembrar que esse retorno leva tempo: projetos costumam demorar de 12 a 24 meses para serem estruturados e certificados, mas os ganhos podem se estender por 10 anos ou mais.

Como acessar o mercado de carbono voluntário

No Brasil, o mercado de carbono ainda é predominantemente voluntário, ou seja, empresas compram créditos para compensar suas emissões de forma espontânea.

O primeiro passo para ingressar no mercado de carbono é avaliar o potencial da propriedade rural. Isso pode ser feito por meio de consultorias especializadas, plataformas digitais ou programas vinculados a cooperativas e bancos.

Em seguida, o projeto precisa ser estruturado conforme uma metodologia reconhecida internacionalmente, com medições de linha de base, plano de monitoramento, validação e registro do projeto em um sistema oficial.

Atualmente, diversos agentes atuam como facilitadores para o pequeno e médio produtor, oferecendo soluções integradas que incluem:

  • Diagnóstico técnico e ambiental da fazenda;
  • Cálculo de emissões e potencial de captura;
  • Registro e certificação do projeto;
  • Comercialização dos créditos em bolsas ou via acordos diretos com empresas.

Desafios e cuidados ao monetizar carbono na pecuária

Embora o mercado de carbono ofereça grandes oportunidades, é preciso atenção para evitar riscos e frustrações. Entre os principais desafios estão:

  • Complexidade técnica e burocrática: o processo de certificação pode ser demorado, com exigências rigorosas de monitoramento e verificação.
  • Custo inicial elevado: o investimento em assessoria, equipamentos e certificação pode ser alto, embora existam modelos em que o custo é diluído ao longo do projeto.
  • Volatilidade de preços: como é um mercado voluntário, os preços dos créditos podem oscilar com o tempo.

Por isso, recomenda-se buscar apoio técnico qualificado e alinhar as expectativas sobre o tempo de retorno, a necessidade de governança ambiental e os compromissos de longo prazo.

A pecuária sustentável é uma realidade que combina responsabilidade ambiental com geração de valor. Com planejamento, apoio técnico e práticas bem implementadas, o produtor rural pode transformar sua propriedade em um ativo ambiental valioso e rentável, integrando-se ao mercado de carbono e ampliando sua competitividade.

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