Manejo sustentável

Pesquisa da Esalq-USP avança no desenvolvimento de fungicidas biológicos para soja

Estudo pioneiro com microrganismos do litoral paulista mostra potencial para reduzir dependência de químicos no cultivo da oleaginosa

A imagem ilustra produção de soja em São Paulo
Foto: Wenderson Araujo/Trilux

Pesquisas conduzidas na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) estão abrindo novas frentes para o controle sustentável de doenças da soja, principal cultura do agronegócio brasileiro.

O trabalho, liderado pelo engenheiro agrônomo Juan Lopes Teixeira, mestre em Microbiologia Agrícola, investigou o uso de microrganismos do gênero Streptomyces no desenvolvimento de fungicidas biológicos de primeira e terceira geração.

O estudo ocorre em um cenário de forte expansão do mercado de bioinsumos no Brasil, que cresce mais de 10% ao ano, impulsionado pela demanda de produtores e empresas por alternativas ao manejo exclusivamente químico. “A soja é uma das grandes culturas em que o uso de biológicos pode agregar valor e sustentabilidade ao sistema produtivo”, afirma Teixeira.

A equipe analisou 20 cepas de Streptomyces spp. isoladas das ilhas de Alcatrazes e Palmas, no litoral paulista, avaliando sua capacidade de antagonismo contra importantes fitopatógenos da soja.

Entre as doenças estudadas estão a:

  • Mancha-alvo (Corynespora cassiicola),
  • Podridão seca da haste e da vagem (Phomopsis sojae),
  • Podridão de carvão da raiz (Macrophomina phaseolina) e
  • Mancha púrpura da semente (Cercospora kikuchii).

Duas inovações se destacaram: a aplicação direta de células vivas de Streptomyces para formulação de produtos biológicos, prática rara no mundo e inédita no Brasil; e o uso de metabólitos secundários produzidos por esses microrganismos, com desempenho promissor no controle de doenças.

Dos testes conduzidos, quatro cepas foram selecionadas para formulações de primeira geração, enquanto uma cepa foi escolhida para um produto de terceira geração. Os resultados in vitro mostraram taxas de controle acima de 53% em cultivos paralelos e superiores a 88% em cultivos cercados.

Já os metabólitos alcançaram mais de 84% de eficácia, com perfis cromatográficos distintos.
Segundo Teixeira, os achados contribuem para uma agricultura mais regenerativa, ajudando a reduzir a pressão de resistência de patógenos a fungicidas químicos.