Estar atento à previsão do tempo e aos alertas meteorológicos é de suma importância para o produtor rural garantir boa produtividade e qualidade dos seus cultivos
Foto: SK Strannik/Pexels

Estar atento à previsão do tempo e ao alerta meteorológico é de suma importância para o produtor rural garantir boa produtividade e qualidade dos seus cultivos.

Eventos climáticos extremos, como secas prolongadas, geadas, granizo e tempestades, podem causar prejuízos gigantescos aos agricultores. No entanto, uma análise meteorológica bem embasada, somada a informações atualizadas em tempo real, pode fazer total diferença para que agricultores evitem um desastre e garantam uma safra de qualidade

Neste artigo, vamos apresentar quais os tipos existentes de alertas meteorológicos, como recebê-los, de que forma eles impactam os diferentes calendários agrícolas e como usar esse conhecimento ao seu favor para prevenir riscos.

Principais tipos de alertas meteorológicos

Existem vários tipos de alertas meteorológicos, e cada um exige uma preparação diferente. Aqui vão os mais comuns no contexto do agro brasileiro:

  • Chuvas intensas e alagamentos: precipitações muito acima do normal – e em curto espaço de tempo – podem causar acumulação de água nos campos, encharcamento, perdas de plantações, erosão do solo e dificuldade de acesso às vias rurais.
  • Geadas: muito comuns no Sul, no Sudeste e em regiões de altitude, especialmente durante o outono e inverno, as geadas podem danificar folhas novas, brotos e flores, afetando desde hortaliças até culturas como café e milho. 
  • Secas ou estiagens: períodos sem chuvas suficientes – ou com distribuição irregular das precipitações – afetam diretamente a disponibilidade de água e a produtividade, além de exigir uso de irrigação ou adaptação de culturas mais resistentes. 
  • Ondas de calor ou frio extremos: temperaturas muito altas ou muito baixas além do normal para a época podem estressar plantas, causar morte de plântulas e perda de produção ou problemas na saúde dos animais.
  • Ventos fortes, granizo e tempestades elétricas: esses alertas podem quebrar plantas, danificar estufas e comprometer colheitas e estruturas de armazenamento, além de representar risco humano.
  • Risco fitossanitário: embora não sejam sempre classificadas como “alerta meteorológico puro”, certas condições meteorológicas, como umidade alta e temperatura favorável, beneficiam o desenvolvimento de pragas e doenças – por exemplo, fungos que se proliferam após chuvas persistentes. Produtores devem cruzar alertas meteorológicos com informações técnicas sobre pragas. 

Como influenciam o calendário agrícola

Os alertas meteorológicos têm impacto profundo sobre o calendário agrícola – o conjunto de decisões de quando plantar, aplicar defensivos, colher, irrigar etc. Para pequenos e médios agricultores, essas decisões são críticas porque geralmente há menos margem financeira para erros.

  • Definição de época de plantio: se há previsão de chuvas intensas no início da safra, pode ser melhor postergar o plantio ou escolher áreas mais bem drenadas. Se há alerta de geada, recomenda-se evitar o plantio de culturas sensíveis ou escolher variedades mais resistentes ao frio.
  • Aplicação de defensivos e insumos: evitar aplicar fungicidas, herbicidas ou inseticidas pouco antes de chuvas fortes ajuda para que o produto não seja lavado. A antecipação da aplicação para dias com previsão de tempo seco também pode ser um caminho.
  • Colheita: alertas de chuva ou tempestades permitem antecipar colheita ou ao menos garantir proteção dos grãos já colhidos durante a armazenagem e o transporte. Para grãos que secam ao sol, por exemplo, a ocorrência de chuva inesperada pode reduzir a qualidade e aumentar a perda por mofo.
  • Irrigação: saber quando vai ter estiagem ou chuvas acumuladas permite regular a irrigação, economizar água e energia e evitar queimaduras ou encharcamentos..
  • Proteção de animais: planejamento de espaços de sombra e alimentação extra podem ser alternativas para dias alertas de calor extremo. Já em caso de previsão de enchentes, recomenda-se o deslocamento de animais para áreas não alagáveis.
  • Segurança do trabalho: tempestades elétricas, ventos fortes e granizo colocam trabalhadores em risco; antecipar essas condições evita acidentes.
  • Seguros e financiamentos: alertas meteorológicos, associados a registros locais (como chuvas, ventos e geadas), ajudam na comprovação de danos para seguros rurais ou programas de apoio governamental.

Ferramentas para acompanhar alertas meteorológicos

1. SISDAGRO – Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)

O Sistema de Suporte à Decisão na Agropecuária (SISDAGRO) do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emite avisos por cores (amarelo, laranja e vermelho), indicando o nível de perigo de eventos climáticos. Ele opera por meio do sistema Alert-AS (Centro Virtual para Avisos de Eventos Meteorológicos Severos), que abrange o Brasil e o Cone Sul.

As cores dos avisos significam: 

  • Amarelo – observação, possibilidade de evento nas próximas até 120 horas.
  • Laranja – atenção, evento provável nas próximas 72 horas. 
  • Vermelho – aviso especial, evento iminente nas próximas 24 horas.
  • Em situações extremas, pode haver o alerta preto para risco extraordinário (em casos críticos). 

2. Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden)

Além do Inmet, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) desempenha uma função estratégica no sistema de alerta brasileiro. Vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o órgão atua de forma integrada com o Inmet, a Defesa Civil e outras instituições para antecipar situações de risco climático e ambiental.

O Cemaden monitora, em tempo real, chuvas, níveis de rios, umidade do solo e movimentação de encostas, cruzando esses dados com informações geográficas e populacionais. 

Seu objetivo é emitir alertas de desastres naturais eminentes, como alagamentos, enxurradas, deslizamentos de terra e secas prolongadas, permitindo que órgãos locais adotem medidas preventivas antes que os impactos ocorram.

3. Agritempo (Embrapa/Mapa)

O Agritempo (Embrapa/Mapa) é um sistema de monitoramento agrometeorológico com mais de 1.600 estações meteorológicas que cobrem grande parte do Brasil. Ele fornece boletins, mapas e séries históricas. Além disso, o Agritempo fornece orientação para irrigação, manejo de solo, entre outras práticas com base no clima.

4. Serviços de Previsão da Defesa Civil Estadual/Municipal

Embora muitas vezes lembrada apenas em grandes desastres urbanos, a Defesa Civil tem papel fundamental também nas zonas rurais brasileiras, onde os efeitos das mudanças climáticas se manifestam com força cada vez maior.

Em parceria com órgãos como o Inmet, o Cemaden e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Defesa Civil atua para transformar os alertas meteorológicos em ações práticas de prevenção – desde o envio de mensagens SMS para produtores até a coordenação de operações emergenciais durante enchentes, vendavais ou estiagens.

Nas áreas agrícolas, sua função vai muito além do socorro imediato. A instituição vem ampliando programas de educação comunitária e de prevenção de desastres, treinando agricultores e lideranças locais para entender os sinais de risco e agir antes do impacto.

5. Radar meteorológico e estações automáticas locais

Contar com estações automáticas ou sensores de campo ajuda a coletar dados próprios, melhorando a precisão das decisões locais.

6. Aplicativos regionais

No agronegócio brasileiro, existem aplicativos regionais e iniciativas públicas regionais que fornecem dados e alertas meteorológicos, os quais podem ser úteis para o agricultor. Um exemplo disso é o IDR Clima no Paraná, que mostra mapas de chuva acumulada e uso da água no solo

Boas práticas de planejamento climático

Ter acesso a alertas é bom, mas o que realmente muda o jogo é adotar práticas que transformem alerta em ação. Para pequenos e médios agricultores, estas são boas práticas que ajudam a mitigar riscos climáticos:

  • Criar um plano de contingência simples: tenha um mapa mental ou físico da fazenda com zonas de risco, como enchente, vento e geada. Defina na rotina o que fazer em cada tipo de alerta: quando interromper o trabalho, mover animais, cobrir estufas ou silos, escoar água etc.
  • Manter registros climáticos locais: anotar chuva, temperatura, ventos fortes em cada estação do ano ajuda a construir séries históricas. Com esses registros, seu uso de ferramentas como SISDAGRO ou Agritempo pode ser calibrado para sua realidade pessoal, facilitando decisões melhores.
  • Escolher cultivares adaptados e práticas resistentes: variedades de plantas mais resistentes à seca ou geadas, uso de cobertura de solo, plantio direto, rotação de culturas – tudo isso ajuda o campo a absorver choques climáticos.
  • Infraestrutura de proteção: estruturas físicas de proteção: estufas, telas, sombreamento, sistemas de drenagem, abrigos para máquinas e equipamentos, silos elevados, entre outros. Garantir que galpões e depósitos resistam a ventos e chuvas fortes é um investimento que pode gerar muita economia.
  • Uso eficiente de recursos: adapte uso de água, de fertilizantes e de defensivos com base no clima previsto. Por exemplo, evite aplicar defensivos antes de chuvas ou irrigar em momentos pontuais de estiagem previstos. Também vale pensar em alimentação suplementar ou sombra extra para o gado em períodos de calor.
  • Treinamento e comunicação local: ensinar trabalhadores e vizinhos sobre alertas meteorológicos é um bom caminho para todos saberem agir rápido. Nesse caso, para repassar informação de qualidade, é necessário ter uma rotina de verificação diária de alertas em grupos de WhatsApp, rádios comunitários ou cooperativas.
  • Planejamento financeiro e seguro rural: embora a maior parte da área cultivada no Brasil ainda esteja desprotegida pelo seguro rural, esse mecanismo ajuda em casos de eventos climáticos extremos. Além disso, os alertas meteorológicos oficiais podem ser usados como comprovação em sinistros.

Os alertas meteorológicos são aliados reais para o agricultor. Eles permitem antecipar riscos, ajustar o calendário de plantio, proteger insumos, animais e infraestrutura – e, por consequência, evitar prejuízos que poderiam comprometer toda a colheita.

Para estar sempre atualizado sobre a  previsão do tempo e conferir também alguns alertas meteorológicos, consulte diariamente a seção de Clima do Broto Notícias