
Resumo da notícia
- Guarany completa 106 anos unindo tradição, inovação e foco no pequeno e médio produtor.
- Empresa atua em 85 países, investe em patentes e fortalece sua estratégia global.
- Inovação nasce da escuta do campo e da parceria com universidades e agricultores.
- Sustentabilidade é pilar central, com projetos ambientais, educação e descarbonização.
- Futuro mira automação, ciência ambiental e soluções para mudanças climáticas.
Fundada há mais de 100 anos, a Guarany Indústria se consolidou como uma das empresas mais longevas e inovadoras do setor de equipamentos agrícolas no Brasil. Mas, ao contrário do que muitos associam ao agronegócio tradicional — marcado por grandes grupos e operações de larga escala —, a Guarany atua com foco em um público que representa a grande maioria das propriedades rurais do país: os pequenos e médios agricultores, responsáveis por grande parte da cadeia de produção de alimentos.
“A Guarany entra no que chamamos de cadeia alimentar legal. A mecanização do pequeno e do médio produtor é o nosso foco, e esse grupo representa cerca de 80% dos produtores no mundo”, explicou a presidente da empresa, Alida Bellandi, em entrevista exclusiva ao Broto Notícias.
A visita, realizada pela equipe do Broto diretamente à fábrica em Itu (SP), a convite da Safe Gold, permitiu acompanhar de perto o funcionamento da companhia e seu modelo de gestão baseado em tradição, inovação e sustentabilidade.
Tradição e inovação: os dois pilares que sustentam a Guarany
A longa história da Guarany não significa acomodação. Ao contrário: a empresa construiu ao longo de décadas uma cultura corporativa baseada em resiliência, valores sólidos e modernização constante.
Segundo a Alida, o segredo foi encontrar o equilíbrio entre a herança histórica e a necessidade de se reinventar continuamente:
“A tradição é muito importante porque nos deu visibilidade, segurança e resiliência. Mas, se não houver inovação, a empresa para no tempo e perde valor.”
Essa visão se traduz em um ecossistema empresarial construído sobre princípios que orientam cada área da companhia:
- responsabilidade social;
- cuidado com as pessoas;
- governança;
- compromisso ambiental;
- visão internacional;
- solidariedade;
- filosofia Kaizen (melhoria contínua).
“Nossas mentes são inquietas. A gente quer sempre evoluir e melhorar”, reforçou Alida.
Atuação global e reconhecimento internacional
Presente em 85 países, distribuídos por cinco continentes, a Guarany mantém uma estrutura comercial robusta e uma estratégia clara de internacionalização — fator que, segundo a presidente, transformou completamente a empresa:
“Entrar no mundo muda nossa visão, nossos processos, nossas necessidades. Obriga a adequar normas, idiomas, produtos e a elevar padrões.”
Essa presença internacional também exige investimento contínuo em certificações e proteção de propriedade intelectual. A empresa acumula 26 patentes nacionais, 44 patentes internacionais e outras 17 patentes na China. Além disso, também precisou, inclusive, entrar com ações contra contrafações vindas do mercado asiático.
Foco no produtor: soluções baseadas na escuta do campo
A Guarany tem parcerias com universidades e centros de pesquisa no Brasil e no exterior, mas um dos maiores motores de inovação vem diretamente do campo.
O CEO, Iran de Alencar Machado, explica que a empresa trabalha em duas frentes: o acompanhamento de tendências tecnológicas junto à academia e a escuta ativa das dores reais dos agricultores.
“Melhor do que a ideia do cliente é o problema do cliente. É a partir dele que nascem várias possibilidades de solução, não apenas um produto.”
Essa filosofia permite que a empresa desenvolva tecnologias sob medida para desafios específicos — desde aplicações em lavouras de café até sistemas adaptados para pequenas propriedades.
Sustentabilidade: da fábrica ao território
O compromisso ambiental é um dos pilares mais fortes da companhia. A Guarany promove há décadas ações internas e externas em educação, reflorestamento, combate a incêndios florestais e bioeconomia. Com um histórico de iniciativas no meio, a Guarany é referência nacional e internacional em sustentabilidade.
Entre os projetos de maior impacto estão:
- Projeto Amoreira: banco genético de espécies brasileiras em risco, em que cada funcionário planta sua árvore, estimulando pertencimento e preservação.
- Educação ambiental nas escolas de Itu: capacitação de 5 mil crianças sobre Mata Atlântica e preservação dos biomas.
- Combate a incêndios junto a comunidades indígenas do Xingu: treinamento de mais de 5 mil indígenas em 200 aldeias, com reconhecimento internacional.
- Recuperação de nascentes em Itu: parceria com a prefeitura local e a comunidade para proteger áreas hídricas sensíveis do município.
- Participação em redes e certificações globais: atende 15 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, tem selo de energia renovável (AIREC) e foi destaque na COP-27, no Egito.
“Depois de dois anos de medições, para cada tonelada de CO₂ emitida, devolvemos 9,810 toneladas. Somos considerados uma empresa descarbonizada”, afirma Alida.
Como é a fábrica da Guarany: tecnologia, organização e eficiência
Durante a visita do Broto à unidade de Itu, foi possível observar de perto a dinâmica produtiva da empresa.
O diretor industrial explicou cada etapa do processo, com destaque para o uso de sistemas de sopro e injeção na fabricação de peças plásticas. Todas as máquinas operam com especificações próprias e um sério padrão de segurança e qualidade.
“Há máquinas que fazem mais de mil peças por dia, outras que fazem milhões por mês”, explicou o diretor. A fábrica opera sob a filosofia japonesa Poka-Yoke, que evita erros e maximiza eficiência, com cada área organizada para garantir segurança e qualidade.
A visita também destacou a importância da ferramentaria, onde são produzidos os moldes usados em máquinas e ferramentas; e o armazém logístico modernizado, responsável por organizar matérias-primas (plástico, ferro, cobre etc.) e produtos finais — separando o que já está vendido do que está em produção.
Agronegócio em transformação
Para entender o cenário financeiro que envolve o setor agrícola e empresas centenárias como a Guarany, o Broto também conversou com Ezequiel Wilbert, CEO da Safe Gold, empresa responsável pela consultoria estratégica da Guarany.
Ezequiel destacou que, após quase uma década de safras recordes e preços elevados, o agronegócio brasileiro entrou em um novo ciclo.“O agro se acostumou com um período muito confortável. Agora, com queda das commodities, custos altos e juros elevados, o setor precisa se reinventar”.
Ele avalia que a excelência técnica do agro brasileiro precisa agora ser acompanhada de maior profissionalização da gestão:
“O lucro não será mais automático. A partir de agora, o resultado vai exigir muito mais trabalho, análise de fluxo de caixa e planejamento.”
O futuro da Guarany: automação, ciência e sustentabilidade
Ao projetar os próximos 100 anos, Alida Bellandi reforça que a empresa está entrando em uma nova fase, marcada pela automação e pela intensificação da pesquisa científica.
“Vamos trabalhar muito com automação. Na saúde ambiental, precisamos continuar estudando insetos que sofrem mutações e se tornam mais agressivos. A ciência será fundamental para desenvolver novas soluções”, aponta Bellandi.
Ela também cita também o avanço das tecnologias de combate inicial a incêndios florestai. “Nossos equipamentos já possuem comandos eletrônicos, controle remoto e, no futuro, poderão operar sozinhos, reduzindo riscos ao bombeiro”, declara.
Por fim, para a presidente, as mudanças climáticas e a bioeconomia serão fatores centrais para o futuro do setor.
“As mudanças climáticas terão impacto enorme na produção agrícola, na produtividade e na segurança alimentar. Isso será determinante para qualquer empresa daqui para frente”, finaliza.