Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente, Unicamp e Universidade Federal do Paraná (UFPR) desenvolveram uma solução inovadora para a sustentabilidade na piscicultura: o uso das farinhas de folhas de amoreira (Morus spp.) e ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata) como alternativa à proteína animal em rações para pacu (Piaractus mesopotamicus) e tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus)
Foto: Wenderson Araujo/CNA

Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente, da Unicamp e da Universidade Federal do Paraná (UFPR) desenvolveram uma solução inovadora para a sustentabilidade na piscicultura: o uso das farinhas de folhas de amoreira (Morus spp.) e ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata) como alternativa à proteína animal em rações para pacu (Piaractus mesopotamicus) e tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus).

Os testes apontaram alta digestibilidade, fortalecimento do sistema imunológico dos peixes e baixa toxicidade ambiental, sinalizando um novo caminho para a formulação de rações comerciais mais sustentáveis e acessíveis.

Desempenho nutricional: digestibilidade e energia equilibradas

Os estudos mostraram que é possível incluir até 24% de farinha de amoreira e 32% de ora-pro-nóbis nas dietas dos peixes sem comprometer o desempenho zootécnico.

“A farinha de ora-pro-nóbis apresentou digestibilidade proteica de 64,9%, enquanto a de amoreira teve aproveitamento lipídico de 76,7%, com níveis adequados de energia e aminoácidos”, explica Patrícia da Silva Dias, autora da tese de doutorado no Instituto de Biologia da Unicamp.

Essas plantas se destacam como ingredientes locais e econômicos, reduzindo a dependência da farinha de peixe e do farelo de soja, que são insumos mais caros e com maior pegada ambiental.

Melhoria na imunidade e resistência a doenças

Nos testes conduzidos no Laboratório de Tecnologia em Aquicultura (LATAq) da UFPR, pacu e tilápia alimentados com rações vegetais mostraram maior resistência à bactéria Aeromonas hydrophila — um dos principais agentes infecciosos da piscicultura mundial.

Taxa de sobrevivência:

  • 100% nos pacus
  • 66,7% nas tilápias

Além disso, foram observados:

  • Parâmetros sanguíneos equilibrados
  • Redução de estresse
  • Melhor condição corporal

Esses resultados indicam boa nutrição e saúde animal, atribuída à presença de compostos bioativos como flavonoides e polifenóis, conforme aponta a orientadora Márcia Ishikawa, da Embrapa Meio Ambiente.

Solução para a produção familiar e agroecológica

Além dos ganhos zootécnicos e ambientais, as espécies amoreira e ora-pro-nóbis podem ser cultivadas em pequenas propriedades rurais, promovendo:

  • Redução de custos com alimentação
  • Aproveitamento de insumos locais
  • Valorização da produção familiar

“É uma estratégia alinhada à aquicultura de base agroecológica e ao fortalecimento de cadeias produtivas mais inclusivas”, afirma o professor Fábio Meurer, coorientador da pesquisa.

Farinhas vegetais aliadas da aquicultura sustentável

Segundo os pesquisadores, a inclusão ideal é de:

  • 6% de farinha de amoreira
  • 32% de farinha de ora-pro-nóbis

Essa combinação oferece um equilíbrio entre desempenho animal, segurança ambiental e viabilidade econômica. Para o pesquisador Julio Queiroz, trata-se de um avanço importante:

“Estamos diante de uma solução que melhora a competitividade da piscicultura brasileira, reduz o uso de insumos químicos e contribui com a conservação ambiental.”