A chegada do inverno traz novas preocupações para o pecuarista. A estação é a mais seca do ano — o que traz danos à qualidade nutricional do pasto, prejudicando assim a alimentação do rebanho — e também a mais fria, o que pode comprometer a saúde dos animais, levando, por exemplo, à morte por hipotermia.
Diante dessa mudança acentuada de clima e temperatura, o produtor precisa redobrar os cuidados com o plantel, tanto do ponto de vista da dieta quanto de abrigo, a fim de mitigar riscos relacionados à perda de peso, redução da fertilidade e aumento da suscetibilidade a doenças.
Segundo João Yamaguchi, gerente de corte a pasto da DSM-Firmenich para a América Latina, a pastagem no inverno diminui e perde qualidade devido à falta de chuvas, em particular no Centro-Sul do Brasil. “O que o pecuarista tiver que fazer agora para corrigir esta situação levará a mais gastos, por isso é importante se preparar antes”.
Nesse sentido, diz o especialista, é interessante que durante o período das águas, no verão, o produtor estabeleça um planejamento forrageiro, que leve ao fornecimento contínuo de forragem de qualidade aos animais ao longo de todo o ano, minimizando assim os efeitos da sazonalidade e das variações climáticas. “Esse ponto, então, passa pela escolha e o manejo de diferentes tipos de forrageiras que compõem o pasto, que considere as necessidades nutricionais do rebanho e a capacidade de produção da propriedade”.
Yamaguchi explica que a eventual necessidade de suplementação com compostos proteicos e/ou energéticos — a depender do objetivo que se almeja com o rebanho — é um esforço complementar, que reflete as deficiências da pastagem na alimentação do plantel. “Nesse caso, não há receita de bolo. Os indicativos de suplementação passam por diversas variáveis, como, por exemplo, se é um animal fêmea que precisa ganhar peso para reprodução daqui a alguns meses; se é rebanho para cria ou recria; se o plantel está na etapa de engorda, e o pasto não deu conta; se vai para terminação porque precisa de ganho de peso acelerado em confinamento, e assim vai”.
Outra medida de contingência para atravessar o período seco e frio é formar e estocar forragem antes da chegada do inverno, com intuito de suprir a escassez de pasto nesta época. “Entre as principais destacam-se fenos, silagem de milho, sorgo ou capim, pré-secados”, diz o zootecnista e diretor técnico industrial da Connan, Bruno Marson. “Essa reserva garante as qualidades nutritivas necessárias para serem fornecidas no cocho como volumoso suplementar ao rebanho na época de estiagem”.
Marson conta que o feno é um alimento mais seco, obtido pela desidratação da forragem, garantindo maior durabilidade e facilidade de armazenamento. O material é estocado em fardos compactados, o que facilita o manuseio e reduz espaço. Para garantir qualidade por mais tempo, deve ser protegido da umidade, sendo a escolha da forragem essencial para atender às exigências nutricionais.
“O ponto de corte influencia diretamente na produtividade e valor nutritivo. A forragem precisa ser enfardada com menos de 20% de umidade para evitar a proliferação de microrganismos”, ressalta o zootecnista, acrescentando “que a produção pode variar entre 2 a 4 toneladas por hectare de matéria seca por corte, com teor de proteína bruta de 6% a 20%”.
Já a silagem é um volumoso úmido armazenado em ambiente anaeróbico (sem entrada de oxigênio) que passa por um processo de fermentação para preservar seus nutrientes, sendo uma opção mais palatável e energética para os animais. “Durante a fermentação, açúcares se transformam em ácidos graxos, principalmente os ácidos lático e acético, reduzindo o pH e garantindo conservação por longo período. A umidade ideal fica entre 65% e 70%, e a compactação adequada evita a entrada de oxigênio. Dependendo da forragem escolhida, a produtividade pode alcançar até 40 toneladas por hectare de matéria seca, com proteína bruta de 6% a 12%”, destaca o especialista.
Marson aponta também o pré-secado como opção “intermediária”. “A forragem perde parte da umidade antes do armazenamento, atingindo cerca de 45% de matéria seca. Após a secagem no campo, o material é enfardado e plastificado para evitar contato com água e oxigênio, garantindo sua conservação”.
Mariana Lisboa, gerente nacional de nutrição da Supremax, braço industrial da Axia Agro, lembra que a suplementação é importante para o bem-estar do rebanho durante todo o ano. “Isso contribuirá para fortalecer o sistema imunológico e prevenir doenças”. Mariana ainda recorda que o uso de probióticos e prebióticos passa a ser importante para auxiliar na manutenção da saúde intestinal dos animais, contribuindo para um melhor aproveitamento dos nutrientes e prevenindo transtornos digestivos.
Cuidados com o frio
Além dos desafios de alimentação que o inverno traz para os rebanhos, o frio, característico da estação, aumenta o risco de morte de animais por hipotermia, que nada mais é que a exposição prolongada a baixas temperaturas.
Documento da Agência Estadual de Vigilância Sanitária Animal e Vegetal (Iagro), órgão vinculado à Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc) do Mato Grosso do Sul, alerta que casos de hipotermia acarretaram a morte de milhares de cabeças de gado em anos anteriores.
Conforme o relatório da Iagro, a falta de suplementação alimentar adequada, a ausência de abrigos contra intempéries, além de aspectos relacionados à idade, raça e localização dos animais na propriedade são fatores que agravam a situação. Em 2024, a hipotermia matou mais de 3 mil bovinos em 38 ocorrências registradas em 14 municípios sul-mato-grossenses.
As medidas preventivas recomendadas pela Iagro aos produtores para proteger os animais dos riscos da hipotermia no inverno são:
- Garantir suplementação alimentar suficiente, especialmente nos períodos secos e durante as frentes frias;
- Providenciar abrigos ou áreas protegidas para minimizar os efeitos de condições climáticas extremas;
- Manter o acompanhamento veterinário regular do rebanho;
- Seguir rigorosamente o calendário oficial de vacinação e manejo sanitário.
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