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Melhoramento genético de precisão: como a tecnologia está criando o gado do futuro

Entenda como o melhoramento genético de precisão está transformando a pecuária bovina brasileira e seus desafios

A imagem representa como o melhoramento genético de precisão está criando o gado do futuro
Foto: Mario Amé/Pexels

Em um cenário global cada vez mais exigente em relação à sustentabilidade, à segurança alimentar e à eficiência produtiva, aprimorar a maneira de produzir carne torna-se necessário.  

Nesse contexto, o melhoramento genético de precisão surge como uma solução inovadora para transformar a pecuária. Utilizando tecnologias avançadas, como a edição genética e a seleção genômica, é possível criar animais mais produtivos, resistentes e adaptados a diferentes condições ambientais.

Neste artigo, vamos entender o que é o melhoramento genético de precisão, como ele está sendo aplicado na pecuária bovina brasileira, quais seus benefícios para o sistema produtivo moderno, qual o papel do Brasil nesse cenário e quais os desafios que acompanham essa evolução tecnológica.

O que é melhoramento genético de precisão?

Criado na década de 1990, o melhoramento genético de precisão é uma abordagem avançada da seleção genética tradicional, que se baseia em dados genômicos e em ferramentas de biotecnologia para identificar, selecionar e propagar os genes mais vantajosos em rebanhos bovinos

Ao contrário dos métodos convencionais, que dependem da observação de características fenotípicas ao longo do tempo, a genética de precisão moderna permite uma identificação precoce e precisa dos animais com maior potencial genético.

Entre as tecnologias utilizadas nesse processo estão a seleção genômica, que analisa milhares de marcadores genéticos para prever o desempenho de um animal, e a edição genética por CRISPR-Cas9, que permite modificar genes específicos para expressar características desejadas, como resistência a doenças ou maior capacidade para a produção de leite.

Como a tecnologia está sendo aplicada na genética bovina?

A aplicação dessa tecnologia na genética bovina começa com a coleta de dados genômicos de animais jovens, ainda em fase de crescimento. Com base em tais dados, é realizada uma análise preditiva para estimar o potencial produtivo, reprodutivo e sanitário de cada indivíduo. Nesse processo, os animais com melhor desempenho esperado são selecionados para reprodução, acelerando o ganho genético de geração em geração.

Bancos de DNA, algoritmos de inteligência artificial e modelagem computacional já estão sendo utilizados por empresas e instituições de pesquisa para fazer seleção genômica em larga escala.

Além disso, tecnologias como a inseminação artificial, a fertilização in vitro e a clonagem têm permitido multiplicar rapidamente os genes classificados como superiores, formando rebanhos mais homogêneos e eficientes.

Vantagens do melhoramento genético para a pecuária

A adoção do melhoramento genético de precisão traz consigo uma série de benefícios para o setor pecuário, tanto na produção de carne quanto de leite. Entre as principais vantagens estão:

Ganho de peso mais rápido

Animais geneticamente superiores apresentam taxas de crescimento mais aceleradas, ou seja, uma dependência menor de tempo para atingir o peso de abate. Na prática, isso reduz os custos com alimentação, manejo e sanidade, aumentando a rentabilidade da atividade pecuária.

Qualidade da carne e do leite

A seleção genética também possibilita aprimorar características de qualidade das raças de gado de corte, como marmoreio da carne, maciez, teor de gorduar, além da produção de leite com maior teor proteico e de sólidos totais. Essa vantagem produtiva agrega valor ao produto final e atende a mercados mais exigentes, tanto fora quanto dentro do Brasil.

Resistência a doenças

Uma das grandes promessas da genética de precisão é o desenvolvimento de animais naturalmente mais resistentes a doenças, o que reduz a necessidade de antibióticos e outros medicamentos durante o processo produtivo. Isso contribui para uma pecuária mais sustentável e segura para o consumidor.

O papel do Brasil no avanço da pecuária de precisão

O Brasil é o maior produtor e exportador de carne bovina do mundo e tem investido fortemente em inovação para manter sua competitividade no mercado global. Principalmente nos últimos anos, várias iniciativas públicas e privadas têm impulsionado a pesquisa e o desenvolvimento em melhoramento genético.

Empresas de biotecnologia animal, centros de pesquisa, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e universidades públicas e privadas têm desenvolvido projetos pioneiros de genômica bovina. Atualmente, o país também conta com um dos maiores rebanhos comerciais do planeta, o que proporciona uma base genética ampla para seleção e testes.

Além disso, o clima tropical e a variedade de sistemas de produção tornam o Brasil um ambiente, ao mesmo tempo, desafiador e ideal para o desenvolvimento de tecnologias adaptadas à realidade da pecuária tropical.

Desafios e cuidados na implementação

Apesar dos avanços, a adoção do melhoramento genético de precisão ainda enfrenta desafios importantes para o seu pleno funcionamento. O primeiro, e talvez o principal deles, é o alto custo inicial das tecnologias, o que pode limitar o acesso para pequenos e médios pecuaristas. Para superar essa barreira, é necessário que haja políticas públicas e linhas de financiamento que incentivem a inclusão dessa tecnologia no campo.

Outro ponto crucial é a ética no uso da biotecnologia: a edição genética, por exemplo, levanta questões sobre segurança alimentar, bem-estar animal e impacto ambiental. Sendo assim, visando transpor esses questionamentos, a regulamentação deve ser clara e baseada em evidências científicas, garantindo a confiança da sociedade e o uso responsável das inovações.

Por fim, para que o melhoramento genético de precisão possa transformar, de fato, a pecuária brasileira, é necessária a formação de mão de obra qualificada e a disseminação do conhecimento científico no campo

Em resumo, o melhoramento genético de precisão representa um marco na evolução da pecuária, possibilitando a criação de animais mais produtivos, sustentáveis e adaptados ao futuro

Com investimento em pesquisa, educação, mão de obra qualificada e políticas públicas adequadas, o Brasil tem tudo para ser o líder global na pecuária de precisão, contribuindo, de forma mais sustentável, para o desenvolvimento do agronegócio nacional e também para a segurança alimentar mundial.

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