A edição genética de plantas é uma das tecnologias mais promissoras da agricultura moderna, dominada por cientistas e amplamente aplicada com a técnica Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas (CRISPR, sigla em inglês). No entanto, a falta de consenso regulatório entre os países e os desafios em torno da propriedade intelectual têm limitado sua aceitação e expansão global.
Em entrevista exclusiva ao Broto Notícias durante o 10º Congresso Brasileiro da Soja, realizado em Campinas (SP), o chefe-geral da Embrapa Soja, Alexandre Nepomuceno, destacou que, apesar dos avanços científicos, ainda há grandes barreiras regulatórias e ideológicas que travam o uso amplo da tecnologia no campo.
Como funciona a edição gênica com CRISPR
A técnica CRISPR permite editar o DNA de uma planta com alta precisão. Um dos diferenciais é que não há inserção de genes exógenos, o que a distingue da transgenia tradicional. O método utiliza uma enzima que atua como uma “tesoura molecular”, cortando o DNA em pontos específicos. Em seguida, o próprio sistema de reparo celular “silencia” genes indesejados, criando características desejáveis como:
- Maior produtividade agrícola;
- Resistência a pragas e doenças;
- Tolerância à seca;
- Redução do ciclo entre plantio e colheita;
- Melhoria na qualidade nutricional das plantas.
“Nesta rota tecnológica, não há introdução de DNA de outra espécie. Isso deveria afastar a comparação com os transgênicos, mas ainda existe confusão entre países e consumidores”, explica Nepomuceno.
Biossegurança e regulamentação: cada país com sua regra
Embora a ciência já comprove a segurança da edição gênica, não existe uma harmonização internacional sobre seu enquadramento. Em alguns países, a técnica é considerada uma forma de melhoramento genético convencional, mas em outros ela ainda é tratada como transgenia — o que implica restrições, rotulagem obrigatória ou até proibição.
Nepomuceno cita como exemplo o Japão, que não é “amigável” aos transgênicos, mas aceita e consome alimentos editados geneticamente, como variedades de tomate obtidas por CRISPR.
A incerteza também afeta o aspecto jurídico, especialmente no que se refere aos direitos de uso e patentes relacionadas à tecnologia CRISPR, cuja titularidade ainda gera debates jurídicos em escala global.
A edição gênica no Brasil: avanço com a liderança da Embrapa
No Brasil, a Embrapa Soja atua com edição gênica desde 2015. Um marco importante foi em setembro de 2022, quando a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou a primeira edição no genoma da soja feita com CRISPR.
Nesse projeto, os cientistas desativaram genes que produziam lectina, um fator antinutricional que prejudica a absorção de nutrientes em rações de aves e suínos. Com a desativação, os animais passam a ganhar peso com maior eficiência, o que representa um avanço relevante para a cadeia de produção de proteína animal.
Indústria se movimenta: Bayer aposta em nova geração com CRISPR
Durante o congresso, a diretora de biotecnologia da Bayer para soja na América Latina, Vivian Nascimento, revelou que a multinacional aguarda parecer da CTNBio para lançar uma nova geração da tecnologia Intacta, agora baseada em edição gênica.
Essa nova versão manterá as características anteriores de resistência a pragas, doenças e defensivos, mas trará inovações no desenho da arquitetura da planta, como menor risco de acamamento (tombamento), aumentando a produtividade e a estabilidade das lavouras.