Apesar de abrigar cerca de 59% da biodiversidade do planeta, a vida no solo segue sendo uma das menos compreendidas e monitoradas do mundo. Para mudar esse cenário, pesquisadores da Embrapa, em parceria com a FAO/ONU e outras instituições internacionais, propõem a criação do Global Soil Biodiversity Observatory (Glosob), um observatório global da biodiversidade do solo. A proposta foi publicada esta semana na revista Nature Ecology and Evolution.
A ideia é estabelecer um sistema unificado de monitoramento que padronize indicadores e permita uma coleta de dados estratégica, capaz de apoiar a formulação de políticas públicas com base em evidências. “Hoje, nem todos têm capacidade para monitorar os organismos do solo, e diversas análises globais revelam que muitas regiões permanecem subestimadas”, destaca Maria Elizabeth Correia, pesquisadora da Embrapa Agrobiologia (RJ).
Segundo George Brown, da Embrapa Florestas (PR), os indicadores atualmente utilizados em convenções internacionais não contemplam as interações biológicas no solo, fundamentais para o equilíbrio dos ecossistemas. “Eles não consideram a biodiversidade do solo nem as interações biológicas que regulam os ciclos biogeoquímicos e outras funções ecossistêmicas essenciais para a vida na terra”, afirma.
A proposta do observatório global, Glosob, se estrutura em cinco eixos principais: padronização dos métodos de medição, integração com levantamentos convencionais, apoio institucional e financeiro, valorização do papel dos organismos do solo, e aprimoramento de políticas públicas. A colaboração com comunidades locais e povos indígenas também está prevista, incorporando o conhecimento tradicional ao modelo científico.
O projeto foi aprovado durante a 12ª reunião do Global Soil Partnership, com participação de 143 instituições. A expectativa é que, até a COP 17, em 2026, os países apresentem propostas práticas para aplicar o modelo. “O know-how da Embrapa será fundamental para a escolha dos locais e capacitação dos envolvidos”, pontua Cintia Carla Niva, da Embrapa Suínos e Aves (SC).
A proposta, que envolve cientistas de nove países, está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e à Década da Restauração de Ecossistemas. Para os pesquisadores, monitorar a biodiversidade do solo é essencial não só para conservar a vida abaixo da terra, mas também para garantir a produção de alimentos e a resiliência frente às mudanças climáticas.
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