
Resumo da notícia
- O agro 4.0 amplia o uso de IoT, sensores, drones e softwares em nuvem, automatizando operações e gerando dados em tempo real para plantio, manejo, colheita e logística.
- Levantamento da PWC mostra que 45% das empresas do agro já usam IoT e 36% aplicam IA, enquanto o avanço digital eleva a vulnerabilidade a ataques cibernéticos.
- A Kaspersky registrou 725 milhões de tentativas de malware (vírus virtuais) no país em um ano, com a agricultura como terceiro alvo.
- Especialistas alertam que invasões podem sequestrar tratores e drones, roubar dados, sabotar sistemas e explorar brechas com IA, inclusive via phishing (mensagens fraudulentas) cada vez mais realista.
- Medidas essenciais incluem segmentar redes, autenticação multifator, backups, atualizações constantes, senhas fortes, controle de acessos e treinamento de equipes.
É inegável: o agronegócio é cada vez mais conectado, o que demanda dos produtores uma maior segurança digital no campo. Nos últimos anos, o setor rural brasileiro vem registrando uma acelerada expansão no uso de tecnologias digitais. O agro 4.0 contempla máquinas e implementos agrícolas conectados via dispositivos de Internet das Coisas (Iot), sensores inteligentes – de clima, irrigação e silos, por exemplo –, drones, softwares operacionais e de gestão em nuvem, entre tantas outras soluções de tecnologia da informação (TI).
Todo este pacote tecnológico apoia a automação e a entrega de dados em tempo real de tarefas de plantio, manejo de insumos, colheita, bem como de atividades relacionadas a transporte e logística, além de aplicações que atuam na tomada de decisão vinculada a crédito, seguro, certificações, entre outras.
Segundo recente levantamento da consultoria PWC, ao menos 45% das empresas brasileiras do setor agro já utilizam soluções de IoT e 36% empregam Inteligência Artificial (IA) em suas operações. Todavia, esse progresso digital também aumenta a exposição de fazendas, agroindústrias e cooperativas agrícolas a ataques cibernéticos.
De acordo com dados da Kaspersky, entre junho de 2023 e julho de 2024 foram bloqueados mais de 725 milhões de ataques de malwares (vírus digitais) no Brasil, o equivalente a 1,9 milhão por dia e cerca de 2 mil por minuto. O setor de agricultura/florestal foi o terceiro mais visado (16,93%), atrás somente de indústria (20,11%) e governo (18,06%). Já relatório do Food & Ag-ISAC rastreou, no segundo trimestre deste ano, ao menos 26 grupos diferentes de cibercriminosos atacando empresas de alimentos e agricultura ao redor do mundo.
Vírus digitais tão danosos quanto pragas agrícolas
“Um vírus virtual pode ser tão danoso para a lavoura quanto uma tradicional praga agrícola“, assinala o especialista em segurança da informação da TI Safe, Tiago Branquinho. “Fortalecer a cibersegurança no campo, portanto, tornou-se tão importante quanto proteger lavouras e criações de riscos sanitários e/ou climáticos“, reforça o gerente de Cibersegurança na TÜV Rheinland, Eduardo Gomes.
O CEO da Skynova, Paulo Lima, observa que o avanço da digitalização no agronegócio amplia consideravelmente a superfície de ataque cibernético. “As principais ameaças estão no acesso não autorizado a dados de produção e de mercado, sabotagem de sistemas automatizados, roubo de propriedade intelectual (genética, produtividade, insumos) e interceptação de comunicações entre equipamentos IoT”, relata, no que é endossado pelo pesquisador e membro do Observatório da Segurança Cibernética no Agronegócio (OSCA), Marcelo Cunha, que pontua: “quaisquer equipamentos e dispositivos físicos, ao estarem conectados à Internet sem os cuidados apropriados de segurança cibernética, estão sujeitos a riscos digitais”.
O pesquisador acentua, por exemplo, que existem ataques contra tratores e drones nos quais o hacker assume o controle do equipamento, provocando toda a sorte de danos – de prejuízos ao maquinário, às tarefas na lavoura e até a pessoas. “Uma ação desse tipo pode resultar em um ‘ransomware operacional‘, ou seja, o sequestro do controle de máquinas ( tratores, colheitadeiras, drones etc.) até que um resgate seja pago“. Lima complementa, ainda, que a estrutura extensa – que envolve fornecedores de implementos, integradores de softwares agrícolas, transportadores, armazéns, cooperativas e produtores – aumenta a vulnerabilidade a ameaças cibernéticas.
Com o avanço da inteligência artificial, os ataques ficam ainda mais sofisticados. “Os cibercriminosos utilizam a IA para automatizar ataques e explorar brechas com maior velocidade”, alerta Lima.
Neste sentido, uma das estratégias que têm sido largamente utilizada, frisa Cunha, é a de phishing, um tipo de ataque cibernético que usa mensagens fraudulentas (como e-mails, SMS e WhatsApp) para enganar pessoas, levando-as a revelar dados confidenciais. “Com emprego de IA, isso fica ainda mais realista”, aponta.
Como se proteger
Os especialistas consultados pela reportagem do Broto Notícias frisam que na agenda de proteção contra ataques cibernéticos no agro o pilar crucial é tratar a cibersegurança como parte da gestão, não apenas como um tema de TI. Confira as principais recomendações de segurança da informação:
- Separar redes particulares das corporativas, ou seja, segregar sistemas de campo, administrativos e de internet pública;
- Proteger acessos remotos com autenticação multifator;
- Manter rotinas de backups automáticos e confiáveis;
- Atualizações constantes de softwares e firewalls, sempre originais e que tenham suporte ativo, não apenas em dispositivos como smartphones, tablets, notebooks e computadores, mas também nos maquinários e implementos agrícolas;
- Usar senhas fortes;
- Limitar acessos conforme o perfil do usuário (princípio do menor privilégio);
- Treinar a equipe de funcionários sobre boas práticas de cibersegurança (não compartilhar senhas, orientar a reconhecer golpes etc.).
Diante da digitalização do agronegócio brasileiro, torna-se evidente que o avanço tecnológico precisa caminhar lado a lado com estratégias robustas de proteção digital.
As mesmas soluções que elevam a eficiência produtiva também ampliam a superfície de risco, abrindo portas para ataques que podem comprometer desde dados estratégicos até o funcionamento de máquinas essenciais à operação agrícola.
A crescente sofisticação das investidas cibernéticas, potencializada pelo uso de inteligência artificial por criminosos, reforça que a segurança digital já não é apenas um diferencial competitivo, mas um requisito básico para a continuidade dos negócios no campo.