Cafeicultura na Amazônia

Cafezais de Rondônia sequestram mais carbono do que emitem, aponta Embrapa

Estudo mostra que cultivo familiar do robusta amazônico remove CO₂ da atmosfera e impulsiona sustentabilidade

Florada do Café Robusta Amazônico nas Matas de Rondônia. Espécie possui cultivo sustentável que contribui para o sequestro de carbono na Amazônia.
Foto: Enrique Alves/Embrapa

Produzido em pequenas propriedades no coração da Amazônia, o Café Robusta das Matas de Rondônia está mostrando que é possível aliar produtividade à preservação ambiental. Um estudo realizado pela Embrapa revelou que esse sistema agrícola sequestra 2,3 vezes mais carbono da atmosfera do que emite, consolidando-se como um modelo de agricultura de baixo carbono.

Os dados foram coletados em 250 propriedades de agricultores familiares de 15 municípios da região, mostram que os cafezais robusta amazônicos têm um saldo positivo anual de quase quatro toneladas de carbono por hectare. Isso se deve ao acúmulo de carbono na biomassa das plantas — tronco, raízes, folhas e frutos — e a práticas sustentáveis adotadas por agricultores locais, como uso de adubos orgânicos e manejo regenerativo.

A pesquisa também resultou na criação de uma planilha interativa, que permite calcular as emissões com base em fatores como irrigação, fertilizantes e energia. A ferramenta está sendo apresentada na Rondônia Rural Show Internacional, maior feira de agronegócio da região Norte, entre os dias 26 a 31 de maio.

“O estudo comprova cientificamente o que já vínhamos praticando: a cafeicultura na Amazônia é sustentável e pode ser parte da solução climática”, afirma Juan Travian, presidente da Caferon (Cafeicultores Associados das Matas de Rondônia).

Outro destaque é a pegada de carbono reduzida: em média, cada quilo de café produzido emite 0,84 kg de CO₂ equivalente, abaixo da média global. Segundo os pesquisadores, 80% das emissões vêm de fertilizantes nitrogenados sintéticos — o que reforça o potencial de mitigação com o uso crescente de insumos orgânicos.

O pesquisador Enrique Alves, da Embrapa Rondônia, destaca que muitos cafeicultores da região substituem parcialmente fertilizantes químicos por insumos orgânicos, como cama de frango e palha de café.

“Essa prática favorece o pleno desenvolvimento vegetal das plantas, o acúmulo de carbono no solo ao longo do tempo, e a menor emissão de GEE, quando comparada aos fertilizantes nitrogenados sintéticos”, explica.

Segundo ele, o robusta amazônico, por ser uma planta de grande porte e alta produtividade, aliado a boas práticas agronômicas, contribui para o sequestro de carbono. “As plantas da variedade botânica robusta são de grande porte e com alta capacidade produtiva. Isso, aliado a boas práticas agronômicas e novos arranjos espaciais mais adensados, fazem da cultura uma ferramenta de proteção do solo e sequestro de carbono”, ressalta.

O projeto também integra a Jornada pelo Clima, iniciativa da Embrapa voltada à descarbonização dos sistemas agroalimentares. Os resultados serão levados à COP30, em Belém, onde o Café Robusta Amazônico será apresentado como exemplo de cultura resiliente e regenerativa no Espaço AgriZone.