
A atual conjuntura de preços altos do café passou. A afirmação é da diretora-executiva da Organização Internacional do Café (OIC), a brasileira Vanúsia Nogueira, que conversou, nesta quinta-feira (3), com a reportagem do Broto nos bastidores do Coffee Dinner & Summit, em Campinas (SP). “O pior para o consumidor já foi”, disse a diretora.
Segundo ela, após uma sequência duradoura de valorização das cotações do café, vista desde o final de 2023, sobretudo por falta de matéria-prima para a indústria, os valores começaram a arrefecer neste final do primeiro semestre.
Dados do Cepea/Esalq-USP mostram que a saca da variedade arábica era negociada em torno de R$ 2,8 mil em fevereiro, recuando para R$ 1,8 mil em junho. Já a do tipo robusta caiu de R$ 2 mil para R$ 1,1 mil na mesma base comparativa.
Vanúsia recorda que toda sorte de eventos climáticos, de geadas no Brasil em 2021, passando por estiagem no Vietnã e chuvas na Colômbia – os três maiores produtores mundiais de café – foram os fundamentos determinantes para a diminuição da colheita global nos últimos anos.
“Além disso, houve um movimento significativo de antecipação de compras por parte de grandes importadores no final do ano passado, em particular europeus, que temiam novas altas, e que, no fundo, acabou elevando ainda mais os preços no começo deste ano”, acrescentou Vanúsia.
Agora, explica a diretora-executiva da OIC, os estoques mundiais, ainda que apertados, estão sendo recompostos e as colheitas se estabilizando. De acordo com ela, o que pode mudar a rota é novamente a ocorrência de geadas nos cafezais brasileiros – já que a safra 2025/26 está em plena colheita –, comprometendo a produção.
“Em meio a todo este vaivém, o consumo global se manteve resiliente e os preços, mesmo com as recentes quedas, se mantêm remuneradores para os produtores“, finaliza.
Café safra 2025/26
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) prevê safra mundial recorde na temporada 2025/26 de 178,7 milhões de sacas de 60 kg.
Recortando para o Brasil, a DATAGRO projeta que a produção de café no ano comercial 2025/26 alcance 63 milhões de sacas – somando as variedades arábica e robusta. O volume representa uma leve queda frente à safra anterior, de 63,9 milhões de sacas, com a redução concentrada na variedade arábica, cuja colheita deve somar 38 milhões de sacas. Já o café robusta deverá alcançar 25 milhões de sacas, em linha com a tendência de crescimento da variedade nos últimos anos.
Segundo a consultoria, o desempenho mais fraco do Café Arábica se deve aos efeitos do clima adverso durante fases críticas de desenvolvimento das lavouras. “A prolongada estiagem e as altas temperaturas registradas no Sudeste brasileiro durante o inverno e a primavera de 2024 prejudicaram o pegamento da florada e a formação dos frutos, comprometendo o potencial produtivo da safra 2025/26”, explica.
Em contrapartida, o robusta deve registrar aumento de produção graças à maior resistência ao estresse hídrico e ao uso mais disseminado de irrigação nas principais regiões produtoras, especialmente no Espírito Santo, Rondônia e Bahia. A variedade também tem ganhado espaço por sua maior estabilidade produtiva, menor custo de produção e crescente demanda no mercado interno e externo.
Colheita em andamento
A colheita se encontra 31,4% concluída na área de atuação da Cooxupé, que abrange mais de 360 municípios e serve como um bom balizador do avanço dos trabalhos nos dois principais estados produtores do Brasil – São Paulo e Minas Gerais –, que juntos correspondem por mais de 60% da oferta nacional.
Regionalmente, a colheita chegou a 37,2% no Sul de Minas; 18,7% no Cerrado Mineiro; 40% nas Matas de Minas e 38,8% na Alta Mogiana de São Paulo.