
O Brasil segue ampliando sua produção agrícola e deve alcançar uma safra recorde de 339,6 milhões de toneladas de grãos em 2024/25, conforme estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Apesar do avanço no campo, a logística de grãos continua sendo um dos principais entraves para o escoamento eficiente da produção. A conclusão é do relatório Retrato da Logística de Grãos do Brasil, desenvolvido pela nstech, que analisou as principais dificuldades e gargalos no escoamento da produção nacional.
A análise da empresa destaca a forte dependência do transporte rodoviário, que em 2023 foi responsável por 69% do escoamento de grãos, frente a 22% pelas ferrovias e apenas 9% pelas hidrovias. O desequilíbrio entre modais impacta os custos de frete, aumenta a imprevisibilidade logística e acentua os impactos ambientais. A estimativa é de que cerca de 70 mil caminhões sejam utilizados além do necessário devido à ineficiência da cadeia atual.
“As longas distâncias entre centros produtores e portos de exportação tornam a gestão logística ainda mais complexa. Uma operação eficiente é essencial para reduzir custos e manter o Brasil competitivo”, analisa Thiago Cardoso, diretor de agronegócio da nstech.
Enquanto isso, a infraestrutura ferroviária e hidroviária continua subaproveitada. Entre 2010 e 2020, por exemplo, o uso de trens para transporte de soja passou de 20,1% para 22,8%, crescimento considerado tímido diante do aumento expressivo na produção. Já as hidrovias vêm ganhando espaço, especialmente na região Norte, mas enfrentam desafios regulatórios e operacionais.
Outro ponto crítico é a armazenagem de grãos. O Brasil consegue armazenar entre 60% e 70% da produção, enquanto países como os Estados Unidos estocam até 150%. A limitação afeta a rentabilidade dos produtores, pressiona o escoamento imediato e encarece os custos logísticos.
A cabotagem aparece como alternativa, mas enfrenta entraves regulatórios, como a exigência de embarcações construídas em estaleiros nacionais e limitação à entrada de novos operadores. Com ajustes legais, o modal poderia ajudar a diversificar o escoamento e reduzir impactos ambientais.
Neste cenário, um dos diagnósticos da nstech é ampliar o uso de tecnologia como alternativa para aumentar a eficiência logística no Brasil. Soluções digitais, como agendamento de cargas, rastreamento em tempo real, gestão de pátios e análise de desempenho, têm potencial para elevar a capacidade operacional sem necessidade de grandes obras.
O relatório também aponta três pilares fundamentais para superar os gargalos logísticos no Brasil: infraestrutura, armazenagem e tecnologia. Diante da necessidade de manter a competitividade no mercado global e lidar com instabilidades climáticas e econômicas, a digitalização da cadeia logística deixa de ser uma tendência e passa a ser uma prioridade estratégica para o agronegócio brasileiro.