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O que é bienalidade do café e como ela afeta a produção

Imagem representa a bienalidade do café
Foto: Wenderson Araujo/Trilux.

A bienalidade do café é um fenômeno natural que afeta o rendimento da lavoura de café de um ano para o outro. Assim, em um ciclo de dois anos, o cafeeiro alterna entre um ano de alta produtividade e outro de produção reduzida, o que traz mudanças no planejamento agrícola e financeiro dos produtores.

Para os produtores, é importante compreender como esse fenômeno acontece, além de ser essencial para aprender a lidar com os desafios do campo e buscar estratégias de manejo agrícola que reduzam seus efeitos negativos. Neste artigo, vamos te explicar como funciona a cultura do café, como a bienalidade afeta a cafeicultura e como você pode melhorar o manejo do seu cafezal. 

Entenda a bienalidade na cafeicultura

A bienalidade na cafeicultura é a alternância entre uma safra alta e uma safra baixa do café, geralmente observada em plantações da espécie Coffea arabica, o café arábica. Ou seja, em um ano a planta produz abundantemente e no ano seguinte a produtividade tende a cair, mesmo com condições climáticas favoráveis e manejo agrícola semelhante.

Esse comportamento está diretamente ligado ao esforço energético que a planta desempenha no ciclo produtivo. Após um ano de grande frutificação, o cafeeiro entra em um período de recuperação, com menor emissão de flores e ramos produtivos, o que reduz a quantidade de frutos na próxima colheita. Assim, a árvore pode fortificar a estrutura de galhos e também se nutrir neste período de recuperação.

Atualmente, a bienalidade é mais evidente em lavouras não irrigadas e com manejo menos intensivo. Em sistemas mais tecnificados, é possível suavizar essa alternância e alcançar maior regularidade na produção ao longo dos anos. Ou seja, as consequências da bienalidade podem ser amenizadas com um manejo adequado e técnicas de irrigação específicas. 

Como funciona o ciclo produtivo do cafeeiro?

O ciclo de produção do cafeeiro ocorre ao longo de aproximadamente um ano e tem três fases principais:

  • Florada: normalmente entre setembro e novembro, dependendo da região;
  • Frutificação: os frutos se desenvolvem e amadurecem de forma gradual;
  • Colheita: de maio a setembro, dependendo do estado e altitude.

Durante a safra alta, a planta investe muita energia na formação e amadurecimento dos frutos. Isso consome nutrientes, água e recursos fisiológicos, o que reduz a capacidade da planta de emitir novos ramos e preparar a florada seguinte.

Esse comportamento fisiológico resulta na produção alternada de café, com um ano de plena produção seguido por outro de recuperação.

Por que a bienalidade do café acontece?

A bienalidade do cafeeiro ocorre, principalmente, devido a:

  • Esgotamento fisiológico: a planta precisa de tempo e energia para se recuperar de um ciclo produtivo intenso;
  • Menor emissão de ramos produtivos: após uma safra alta, a planta prioriza a manutenção dos tecidos e reduz o crescimento de novos ramos;
  • Condições climáticas adversas: geadas, secas ou chuvas fora de época durante a florada ou ao longo da frutificação podem acentuar a bienalidade;
  • Fatores genéticos: algumas cultivares apresentam maior tendência à alternância de produção;
  • Manejo inadequado: nutrição insuficiente, poda irregular e estresses ambientais não controlados contribuem para a bienalidade negativa.

A interação desses fatores resulta em um comportamento cíclico de produção, que pode ser previsível, mas que traz desafios para o planejamento da propriedade.

Diferença entre bienalidade positiva e negativa

A bienalidade do café pode se manifestar de forma mais ou menos severa. Por isso, ela é dividida em dois tipos: positiva e negativa.

Bienalidade positiva

É quando a alternância entre os anos é mais suave. A safra baixa ainda mantém níveis razoáveis de produção, permitindo que o produtor continue com renda estável e fluxo de caixa controlado.

Essa condição é alcançada por meio de:

Bienalidade negativa

É caracterizada por quedas expressivas na safra baixa, muitas vezes com perdas superiores a 50% da produção em relação ao ano anterior. Esse cenário pode colocar em risco a viabilidade econômica da lavoura, dificultar o cumprimento de contratos e provocar desequilíbrio na comercialização.

Esse tipo de bienalidade costuma ocorrer em lavouras:

  • Com manejo nutricional deficiente;
  • Sem irrigação;
  • Submetidas a estresses climáticos;
  • Cultivadas com variedades mais suscetíveis à alternância.

Impactos econômicos da bienalidade do café

A alternância entre anos de alta e baixa produção afeta diretamente a rentabilidade da cafeicultura. Nos anos de safra alta, os preços geralmente caem devido ao aumento da oferta. Já nos anos de safra baixa, os preços podem subir, mas nem sempre compensam a redução no volume produzido.

Esse comportamento cria um ciclo de instabilidade financeira para o produtor, que precisa lidar com:

  • Planejamento de caixa irregular;
  • Dificuldade em manter funcionários fixos;
  • Incerteza na negociação de contratos futuros;
  • Riscos de inadimplência e endividamento.

Em cooperativas, a bienalidade pode afetar o volume de entrega, prejudicar acordos comerciais e comprometer programas de certificação que exigem regularidade no fornecimento.

Manejo para reduzir os efeitos da bienalidade do café

Embora não seja possível eliminar totalmente a bienalidade, é possível minimizar seus efeitos com práticas agrícolas eficientes:

  • Podas controladas: aplicadas em blocos ou de forma alternada entre talhões, ajudam a distribuir melhor a carga produtiva;
  • Nutrição equilibrada: baseada em análises de solo e folha, com foco na recuperação pós-colheita;
  • Irrigação estratégica: garante disponibilidade hídrica em momentos críticos, como florada e granação;
  • Controle fitossanitário rigoroso: evita estresses causados por pragas como bicho-mineiro e doenças como ferrugem;
  • Sombreamento parcial e cobertura do solo: ajudam a manter o microclima da lavoura estável.

Além disso, a escolha de cultivares menos bienais e mais adaptadas à região também contribui para maior estabilidade da produção.

Diante de um cenário marcado por eventos climáticos extremos e uma oferta global mais restrita, os preços do café devem continuar voláteis nos próximos meses. Para produtores, o momento exige atenção redobrada ao planejamento da lavoura e ao manejo pós-colheita, buscando manter a produtividade em meio aos desafios climáticos. 

Já para os consumidores e indústrias, o aumento dos custos reforça a importância de estratégias de comercialização e abastecimento. A cadeia do café segue atenta aos próximos movimentos do mercado e do clima, que continuam ditando o ritmo e o valor de uma das bebidas mais consumidas do planeta. Saiba como as mudanças climáticas têm afetado os preços do café no Brasil.